A segunda edição da Feira de Educação, organizada pelo Consulado do Brasil em Nagoia (Aichi) no domingo (8), enriqueceu os debates em torno do futuro dos filhos dos brasileiros no Japão. O evento cresceu em quantidade e variedade de palestras relacionadas a educação, totalizando quase 20.
O cônsul do Brasil em Nagoia, Nei Futuro Bitencourt, em seu discurso de abertura, frisou que a feira é a materialização de um sonho, que visa amparar crianças e jovens na concretização de seus sonhos.
A expectativa era de que viessem pelo menos 1.000 pessoas. Mas a recepção da Feira registrou a presença de 664 pessoas, mais ou menos a mesma marca da primeira edição, realizada no ano passado.
Como curiosidade, desse total de 664 pessoas, 104 tinham de 0 a 14 anos; 137 tinham entre 15 e 18 anos de idade; 70 tinham de 19 a 30 anos; e 365 eram acima de 30 anos de idade.
TUDO NUM LUGAR SÓ
E por sua natureza, a Feira de Educação reuniu num mesmo dia e lugar as empresas que Mille Miyata, de Toyohashi (Aichi), e seu filho Yam, de 14 anos, estavam precisando consultar.
“O Yam está no segundo ano do chuugakkou e aqui conseguimos falar com as empresas que poderão no ajudar, já que queremos que ele faça intercâmbio internacional no Reino Unido e depois uma faculdade no Japão”, disse Mille.
Mille também aproveitou o momento para se informar sobre um curso de educação à distância. “Já sou formada em Geografia no Brasil e quero fazer um segundo curso, de Pedagogia”, disse.
O mesmo interesse movimentou Danilo Ishikawa Domingues e sua esposa Andreia, de Nagoia. Eles, que moram há apenas cinco meses no Japão, foram à Feira de Educação para buscar opções de estudos para os filhos Luiz Guilherme, 13, e Ana Clara, 9. “Eles já estão em escola japonesa, mas como nosso plano é retornar ao Brasil dentro de três anos, estamos vendo as opções de permanecerem nestas escolas, mas terem aulas com disciplinas do Brasil ou mudar mesmo para uma escola brasileira”, disse Danilo.
REDAÇÃO EMOCIONANTE
A estudante Hikari Matsuda apresentou logo na abertura da Feira o conteúdo de sua redação vencedora em um concurso da escola primária Iwakura Higashi, na cidade de Iwakura (Aichi). Ela falou em japonês e sua irmã, Kaori, fez a tradução para o português.
Na redação, Hikari falou em tom emocionado sobre a experiência de ter seu irmão acometido por uma distrofia muscular e ao ver todas as dificuldades enfrentadas pela família, além dos maus-tratos sofridos pela irmã na escola, por ser estrangeira e pelo fato de, na época, não dominar o idioma japonês. “Por tudo isso, quero me tornar uma conselheira psicológica, para ajudar os que são desencorajados”, garante Hikari.
LÍNGUA DE HERANÇA
Entre tantos temas definidos para a Feira de Educação, o Projeto Construir Artel, e educA+, abordou a importância do Português como Língua de Herança (PLH). A explanação envolveu Luzia Tanaka, Keith Kinoshita e Adriana Sugino. Elas deixaram claro que o ensino do português como língua de herança tem certas especificidades.
“Não é só ensinar a ler e escrever, mas ensinar o idioma junto com a cultura, o que tem muitos benefícios para a criança, criando nela um sentimento de pertencimento, de saber de onde veio. Assim a criança é beneficiada também com a melhora de sua autoestima e ainda do rendimento escolar”, afirma Luzia.
Keith Kinoshita lembra que muitas crianças têm vergonha de dizer que são brasileiras ou mesmo de falar português. Como muitas que estudam em escola japonesa preferem se comunicar nesse idioma, e seus pais não dominam tão bem a língua japonesa, o português acaba sendo esquecido e o diálogo em casa fica complicado. “Quando a criança aprende o português e sua cultura, ela entende que é legal ser brasileiro”, explica.
Angela Nishimura, de Kikugawa (Shizuoka), sabe bem da importância do aprendizado do idioma português. Além de ser roteirista, autora de novelas, filmes e peças teatrais, é autora de livros infantis, como “O Sonho da Sementinha” e de outros oito já lançados. “Mesmo vivendo em outro país, é importante a manutenção da língua e da cultura. Falta muito para chegarmos a um nível desejado. Mas a cada evento como esse subiremos degrau por degrau”, afirma.
JAPONÊS
Além da importância do estudo do português, o aprendizado do idioma japonês também ganhou espaço entre as palestras. O tema foi abordado por Fernanda Ando, do canal Nihongando. Nanda, como é conhecida, contou que, como muitos, fez diversos cursos e que mesmo assim não conseguia se comunicar com facilidade no cotidiano. Então explicou os cinco passos necessários para quem deseja dominar o idioma local.
Nanda citou que primeiro é preciso definir o propósito de aprender japonês. “Não é só porque você está no Japão. É preciso saber o real motivo. Em seguida, é preciso fazer um diagnóstico de como é seu dia, com suas atividades e horários, para encontrar ao menos meia hora por dia para estudar”, diz. O terceiro passo é a imersão, o que inclui contatos em redes sociais, filmes em japonês e participar de eventos de centros comunitários. Em seguida deve-se criar o hábito do estudo e buscar materiais para o estudo.
“Só aprender a escrever uma palavra não ajuda muito. É preciso aprender dentro de um contexto, como quando aprendemos a escrever a letra ‘a’ de abelha, conciliando a palavra com uma imagem”, ensina, citando que o mesmo vale para os ideogramas. “Mas não estude os ideogramas que as crianças aprendem na escola, pois elas já estão se tornando fluentes. Estude os ideogramas que você vai usar no cotidiano”, diz.
Sobre isso, quatro jovens, Carina Maeda, Fernanda Tajima, Fernando Yamauti e Rennan Okawa, relataram suas experiências no estudo do japonês, as dificuldades que tiveram que enfrentar, até chegarem a cursos superiores no Japão e deram dicas e conselhos para os presentes na Feira de Educação.
Outros temas abordados durante a Feira de Educação foram bilinguismo, importância do estudo do japonês, bolsas de estudo, faculdades japonesas ou estrangeiras, educação à distância, intercâmbio, indústria 4.0. E ainda foram realizadas oficinas sobre escolha profissional, planejamento de carreira.
A segunda edição da Feira de Educação foi encerrada com a encenação da peça teatral “O Auto da Compadecida”, de autoria de Ariano Suassuna, por alunos do ensino médio da Escola Nikken, de Mie. E com a premiação dos alunos vencedores da Olimpíada de Português, organizada pelo Consulado do Brasil em Nagoia. Sobre as redações, o cônsul Bitencourt frisou que são textos “fantásticos e de muito bom nível”.
Marcaram presença no evento ainda o prefeito de Konan (Shiga), Eigo Tanihata; Mizuno Naoki, vice-diretor do Setor Cultural da Província de Aichi; e Takaoka Toyohiko, diretor do Departamento de Turismo e Intercâmbio, Secretaria de Turismo, Cultura e Intercâmbio de Nagoia (Aichi).
Fonte: Alternativa
A segunda edição da Feira de Educação, organizada pelo Consulado do Brasil em Nagoia (Aichi) no domingo (8), enriqueceu os debates em torno do futuro dos filhos dos brasileiros no Japão. O evento cresceu em quantidade e variedade de palestras relacionadas a educação, totalizando quase 20.
O cônsul do Brasil em Nagoia, Nei Futuro Bitencourt, em seu discurso de abertura, frisou que a feira é a materialização de um sonho, que visa amparar crianças e jovens na concretização de seus sonhos.
A expectativa era de que viessem pelo menos 1.000 pessoas. Mas a recepção da Feira registrou a presença de 664 pessoas, mais ou menos a mesma marca da primeira edição, realizada no ano passado.
Como curiosidade, desse total de 664 pessoas, 104 tinham de 0 a 14 anos; 137 tinham entre 15 e 18 anos de idade; 70 tinham de 19 a 30 anos; e 365 eram acima de 30 anos de idade.
TUDO NUM LUGAR SÓ
E por sua natureza, a Feira de Educação reuniu num mesmo dia e lugar as empresas que Mille Miyata, de Toyohashi (Aichi), e seu filho Yam, de 14 anos, estavam precisando consultar.
“O Yam está no segundo ano do chuugakkou e aqui conseguimos falar com as empresas que poderão no ajudar, já que queremos que ele faça intercâmbio internacional no Reino Unido e depois uma faculdade no Japão”, disse Mille.
Mille também aproveitou o momento para se informar sobre um curso de educação à distância. “Já sou formada em Geografia no Brasil e quero fazer um segundo curso, de Pedagogia”, disse.
O mesmo interesse movimentou Danilo Ishikawa Domingues e sua esposa Andreia, de Nagoia. Eles, que moram há apenas cinco meses no Japão, foram à Feira de Educação para buscar opções de estudos para os filhos Luiz Guilherme, 13, e Ana Clara, 9. “Eles já estão em escola japonesa, mas como nosso plano é retornar ao Brasil dentro de três anos, estamos vendo as opções de permanecerem nestas escolas, mas terem aulas com disciplinas do Brasil ou mudar mesmo para uma escola brasileira”, disse Danilo.
REDAÇÃO EMOCIONANTE
A estudante Hikari Matsuda apresentou logo na abertura da Feira o conteúdo de sua redação vencedora em um concurso da escola primária Iwakura Higashi, na cidade de Iwakura (Aichi). Ela falou em japonês e sua irmã, Kaori, fez a tradução para o português.
Na redação, Hikari falou em tom emocionado sobre a experiência de ter seu irmão acometido por uma distrofia muscular e ao ver todas as dificuldades enfrentadas pela família, além dos maus-tratos sofridos pela irmã na escola, por ser estrangeira e pelo fato de, na época, não dominar o idioma japonês. “Por tudo isso, quero me tornar uma conselheira psicológica, para ajudar os que são desencorajados”, garante Hikari.
LÍNGUA DE HERANÇA
Entre tantos temas definidos para a Feira de Educação, o Projeto Construir Artel, e educA+, abordou a importância do Português como Língua de Herança (PLH). A explanação envolveu Luzia Tanaka, Keith Kinoshita e Adriana Sugino. Elas deixaram claro que o ensino do português como língua de herança tem certas especificidades.
“Não é só ensinar a ler e escrever, mas ensinar o idioma junto com a cultura, o que tem muitos benefícios para a criança, criando nela um sentimento de pertencimento, de saber de onde veio. Assim a criança é beneficiada também com a melhora de sua autoestima e ainda do rendimento escolar”, afirma Luzia.
Keith Kinoshita lembra que muitas crianças têm vergonha de dizer que são brasileiras ou mesmo de falar português. Como muitas que estudam em escola japonesa preferem se comunicar nesse idioma, e seus pais não dominam tão bem a língua japonesa, o português acaba sendo esquecido e o diálogo em casa fica complicado. “Quando a criança aprende o português e sua cultura, ela entende que é legal ser brasileiro”, explica.
Angela Nishimura, de Kikugawa (Shizuoka), sabe bem da importância do aprendizado do idioma português. Além de ser roteirista, autora de novelas, filmes e peças teatrais, é autora de livros infantis, como “O Sonho da Sementinha” e de outros oito já lançados. “Mesmo vivendo em outro país, é importante a manutenção da língua e da cultura. Falta muito para chegarmos a um nível desejado. Mas a cada evento como esse subiremos degrau por degrau”, afirma.
JAPONÊS
Além da importância do estudo do português, o aprendizado do idioma japonês também ganhou espaço entre as palestras. O tema foi abordado por Fernanda Ando, do canal Nihongando. Nanda, como é conhecida, contou que, como muitos, fez diversos cursos e que mesmo assim não conseguia se comunicar com facilidade no cotidiano. Então explicou os cinco passos necessários para quem deseja dominar o idioma local.
Nanda citou que primeiro é preciso definir o propósito de aprender japonês. “Não é só porque você está no Japão. É preciso saber o real motivo. Em seguida, é preciso fazer um diagnóstico de como é seu dia, com suas atividades e horários, para encontrar ao menos meia hora por dia para estudar”, diz. O terceiro passo é a imersão, o que inclui contatos em redes sociais, filmes em japonês e participar de eventos de centros comunitários. Em seguida deve-se criar o hábito do estudo e buscar materiais para o estudo.
“Só aprender a escrever uma palavra não ajuda muito. É preciso aprender dentro de um contexto, como quando aprendemos a escrever a letra ‘a’ de abelha, conciliando a palavra com uma imagem”, ensina, citando que o mesmo vale para os ideogramas. “Mas não estude os ideogramas que as crianças aprendem na escola, pois elas já estão se tornando fluentes. Estude os ideogramas que você vai usar no cotidiano”, diz.
Sobre isso, quatro jovens, Carina Maeda, Fernanda Tajima, Fernando Yamauti e Rennan Okawa, relataram suas experiências no estudo do japonês, as dificuldades que tiveram que enfrentar, até chegarem a cursos superiores no Japão e deram dicas e conselhos para os presentes na Feira de Educação.
Outros temas abordados durante a Feira de Educação foram bilinguismo, importância do estudo do japonês, bolsas de estudo, faculdades japonesas ou estrangeiras, educação à distância, intercâmbio, indústria 4.0. E ainda foram realizadas oficinas sobre escolha profissional, planejamento de carreira.
A segunda edição da Feira de Educação foi encerrada com a encenação da peça teatral “O Auto da Compadecida”, de autoria de Ariano Suassuna, por alunos do ensino médio da Escola Nikken, de Mie. E com a premiação dos alunos vencedores da Olimpíada de Português, organizada pelo Consulado do Brasil em Nagoia. Sobre as redações, o cônsul Bitencourt frisou que são textos “fantásticos e de muito bom nível”.
Marcaram presença no evento ainda o prefeito de Konan (Shiga), Eigo Tanihata; Mizuno Naoki, vice-diretor do Setor Cultural da Província de Aichi; e Takaoka Toyohiko, diretor do Departamento de Turismo e Intercâmbio, Secretaria de Turismo, Cultura e Intercâmbio de Nagoia (Aichi).
Fonte: Alternativa