Desde abril, empresas podem contratar pessoas sem ascendência japonesa e até de baixa qualificação profissional
Com o envelhecimento da população, o governo japonês decidiu facilitar a entrada de imigrantes para suprir a demanda do mercado de trabalho local. As regras de contratação de estrangeiros foram flexibilizadas em abril, permitindo que pessoas sem ascendência japonesa e até de baixa qualificação profissional possam se candidatar a uma vaga no país.
A estimativa do governo japonês é emitir 345 mil vistos de trabalho para pessoas de várias nacionalidades em cinco anos. Com a crise econômica e o elevado desemprego no Brasil, o número de brasileiros que vem deixando o país para morar no Japão é crescente. Saiba o que é preciso para disputar um emprego no país asiático.
O desejo de garantir uma educação melhor para os dois filhos levou o casal Felipe e Ivelize Vicente a trocar o Brasil pelo Japão, para onde embarcam em junho. Designer, Felipe já garantiu o visto de permanência para toda a família. Vai encarar jornadas de trabalho que podem chegar a 45 horas semanais em uma fabricante de autopeças em Oyama, a cem quilômetros de Tóquio. O principal atrativo é o salário, de ao menos US$ 10 por hora, que Felipe espera ser suficiente para sustentar a família, já que não vai gastar nada com a educação de Lucas, de 5 anos, e Daniel, de quase 2.
A família não está sozinha. A busca de trabalho no Japão por parte dos brasileiros voltou a crescer em 2016, mas ganha novo fôlego agora com as novas regras de imigração que o país asiático adotou em abril. No fim de 2018, havia 197 mil brasileiros em cidades japonesas, os chamados decasséguis. É o quinto maior grupo de estrangeiros no país e o primeiro entre os ocidentais. O número ainda está longe do recorde de 317 mil de 2007, mas a tendência é de crescimento.
As novas regras permitem que esse caminho seja trilhado até por profissionais de baixa qualificação e sem ascendência japonesa. Antes as regras davam preferência a descendentes de segunda e terceira geração (filhos e netos de japoneses). Com a flexibilização, o governo japonês espera emitir 345 mil vistos de trabalho para estrangeiros de várias nacionalidades em cinco anos.
— Estamos seguros sobre essa opção. No Brasil se gasta muito para garantir uma educação de qualidade. Estamos indo para ficar até as crianças se formarem — diz Felipe, que não tinha ligação com o Japão até se casar com a bancária Ivelize, neta de japoneses, que também pretende trabalhar lá após a adaptação dos filhos.
População em queda
A carência de mão de obra no Japão, cuja população envelhece de forma acelerada, não é novidade, mas se agravou com as obras para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020. O país perdeu um milhão de pessoas entre 2010 e 2015. A previsão é que a população atual de 127 milhões se reduza a 86,7 milhões em 2060.
— O problema de falta de mão de obra no Japão é crônico. No longo prazo, precisamos de trabalhadores estrangeiros. A tendência é aumentar o número de brasileiros — diz o cônsul-geral japonês em exercício em São Paulo, Akira Kusunoki, que recomenda aos interessados conhecer bem os hábitos do país, tradicionalmente fechado para estrangeiros, antes de tomar a decisão, o que facilita a adaptação.
O fraco desempenho da economia e o alto desemprego no Brasil contribui para o êxodo rumo a terras japonesas. A Itiban, maior agência de recrutamento para o Japão, enviava de 150 a 200 brasileiros ao mês para o país asiático até o ano passado. Nesse ano, o número cresceu e chega a 300.
— A crise no Brasil e a recuperação mais lenta da economia explicam a maior procura. É diferente do passado. Hoje o brasileiro quer ir com a família e ficar mais tempo — diz Kleber Ariyoshi, diretor da Itiban.
Esses brasileiros vão para trabalhar de dez a doze horas por dia, ganhando entre US$ 10 e US$ 14 a hora, dependendo do ramo de atuação e região da empresa. A maior parte das oportunidades está em montadoras, fabricantes de autopeças, empresas de alimentos e de eletroeletrônicos. É importante falar japonês para também se candidatar a vagas em lojas de conveniência ou até no cuidado de idosos.
Ariyoshi conta que a cultura, a culinária e o tipo de trabalho — braçal e com longa jornada — são os fatores que mais podem dificultar a adaptação dos brasileiros. Alguns chegam a desistir quando se dão conta do que os espera.
O custo de um processo como esse, que inclui visto e passagem, fica entre US$ 2,5 mil e US$ 3,3 mil e é financiado pela empreiteira (empresa no Japão que faz a intermediação com as indústrias). O pagamento, na maior parte dos casos, tem início no segundo mês, dividido em seis vezes por ano.
O designer Fábio Kenji, de 28 anos, já sabe o que esperar. Aos 13, fez um intercâmbio no Japão. Agora, decidiu voltar para trabalhar. A motivação foi o fim de um contrato de trabalho e o término de um relacionamento de 14 anos:
— Vou para trabalhar em fábrica, mas acredito que, estando lá, outras oportunidades podem surgir. Acho que vou me adaptar, mas quero ficar, no máximo, cinco anos.
Fonte: O Globo
Desde abril, empresas podem contratar pessoas sem ascendência japonesa e até de baixa qualificação profissional
Com o envelhecimento da população, o governo japonês decidiu facilitar a entrada de imigrantes para suprir a demanda do mercado de trabalho local. As regras de contratação de estrangeiros foram flexibilizadas em abril, permitindo que pessoas sem ascendência japonesa e até de baixa qualificação profissional possam se candidatar a uma vaga no país.
A estimativa do governo japonês é emitir 345 mil vistos de trabalho para pessoas de várias nacionalidades em cinco anos. Com a crise econômica e o elevado desemprego no Brasil, o número de brasileiros que vem deixando o país para morar no Japão é crescente. Saiba o que é preciso para disputar um emprego no país asiático.
O desejo de garantir uma educação melhor para os dois filhos levou o casal Felipe e Ivelize Vicente a trocar o Brasil pelo Japão, para onde embarcam em junho. Designer, Felipe já garantiu o visto de permanência para toda a família. Vai encarar jornadas de trabalho que podem chegar a 45 horas semanais em uma fabricante de autopeças em Oyama, a cem quilômetros de Tóquio. O principal atrativo é o salário, de ao menos US$ 10 por hora, que Felipe espera ser suficiente para sustentar a família, já que não vai gastar nada com a educação de Lucas, de 5 anos, e Daniel, de quase 2.
A família não está sozinha. A busca de trabalho no Japão por parte dos brasileiros voltou a crescer em 2016, mas ganha novo fôlego agora com as novas regras de imigração que o país asiático adotou em abril. No fim de 2018, havia 197 mil brasileiros em cidades japonesas, os chamados decasséguis. É o quinto maior grupo de estrangeiros no país e o primeiro entre os ocidentais. O número ainda está longe do recorde de 317 mil de 2007, mas a tendência é de crescimento.
As novas regras permitem que esse caminho seja trilhado até por profissionais de baixa qualificação e sem ascendência japonesa. Antes as regras davam preferência a descendentes de segunda e terceira geração (filhos e netos de japoneses). Com a flexibilização, o governo japonês espera emitir 345 mil vistos de trabalho para estrangeiros de várias nacionalidades em cinco anos.
— Estamos seguros sobre essa opção. No Brasil se gasta muito para garantir uma educação de qualidade. Estamos indo para ficar até as crianças se formarem — diz Felipe, que não tinha ligação com o Japão até se casar com a bancária Ivelize, neta de japoneses, que também pretende trabalhar lá após a adaptação dos filhos.
População em queda
A carência de mão de obra no Japão, cuja população envelhece de forma acelerada, não é novidade, mas se agravou com as obras para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020. O país perdeu um milhão de pessoas entre 2010 e 2015. A previsão é que a população atual de 127 milhões se reduza a 86,7 milhões em 2060.
— O problema de falta de mão de obra no Japão é crônico. No longo prazo, precisamos de trabalhadores estrangeiros. A tendência é aumentar o número de brasileiros — diz o cônsul-geral japonês em exercício em São Paulo, Akira Kusunoki, que recomenda aos interessados conhecer bem os hábitos do país, tradicionalmente fechado para estrangeiros, antes de tomar a decisão, o que facilita a adaptação.
O fraco desempenho da economia e o alto desemprego no Brasil contribui para o êxodo rumo a terras japonesas. A Itiban, maior agência de recrutamento para o Japão, enviava de 150 a 200 brasileiros ao mês para o país asiático até o ano passado. Nesse ano, o número cresceu e chega a 300.
— A crise no Brasil e a recuperação mais lenta da economia explicam a maior procura. É diferente do passado. Hoje o brasileiro quer ir com a família e ficar mais tempo — diz Kleber Ariyoshi, diretor da Itiban.
Esses brasileiros vão para trabalhar de dez a doze horas por dia, ganhando entre US$ 10 e US$ 14 a hora, dependendo do ramo de atuação e região da empresa. A maior parte das oportunidades está em montadoras, fabricantes de autopeças, empresas de alimentos e de eletroeletrônicos. É importante falar japonês para também se candidatar a vagas em lojas de conveniência ou até no cuidado de idosos.
Ariyoshi conta que a cultura, a culinária e o tipo de trabalho — braçal e com longa jornada — são os fatores que mais podem dificultar a adaptação dos brasileiros. Alguns chegam a desistir quando se dão conta do que os espera.
O custo de um processo como esse, que inclui visto e passagem, fica entre US$ 2,5 mil e US$ 3,3 mil e é financiado pela empreiteira (empresa no Japão que faz a intermediação com as indústrias). O pagamento, na maior parte dos casos, tem início no segundo mês, dividido em seis vezes por ano.
O designer Fábio Kenji, de 28 anos, já sabe o que esperar. Aos 13, fez um intercâmbio no Japão. Agora, decidiu voltar para trabalhar. A motivação foi o fim de um contrato de trabalho e o término de um relacionamento de 14 anos:
— Vou para trabalhar em fábrica, mas acredito que, estando lá, outras oportunidades podem surgir. Acho que vou me adaptar, mas quero ficar, no máximo, cinco anos.
Fonte: O Globo